terça-feira, 26 de setembro de 2017

Estreia no palco

No último dia 2, Dulci XII teve sua primeira aparição pública durante o BEATLES + FRIENDS, evento realizado no espaço cultural da Pinacoteca Benedicto Calixto. Nada melhor que apresentá-la com o acorde de 12 cordas mais emblemático da história.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Epílogo

Depois de duas semanas, eis a primeira de algumas postagens adicionais que devem acontecer por aqui. Desta vez, mais como um editorial, ao invés do factual de outrora, jornalisticamente falando.


Sobre o blog


"Pra que tanta corda?" nunca teve a intenção de ensinar a fazer uma guitarra 12 cordas, mas a de relatar este processo pelo ponto de vista de um aspirante a luthier. Até onde saiba, conteúdo inédito na internet com esse grau de detalhamento passo-a-passo. Nos últimos 2 anos, o projeto ocupou a maior parte das terças-feiras, na prática, como um dia de trabalho. Duas horas e meia para ir até o curso, uma hora e meia de aula, duas horas e meia para voltar e, em média, uma hora e meia para preparar cada uma dessas 96 publicações. Foram, ao menos, 8 horas semanais de dedicação exclusiva.


Resultado


Só faria sentido se tratasse de algo diferente, como dito no post de abertura. Desafiador de qualquer forma, mas não tinha dimensão do quanto. Além de nunca ter feito um instrumento, era total minha inexperiência em manipular madeira com todo um universo de maquinários e ferramentas. Por isso, foi ousado partir logo para uma 12 cordas. Ainda mais neste caso, tirando todas as medidas apenas observando fotos. Nunca tive a oportunidade de ter a original em mãos, nem de obter a planta dela, o que seria encontrado com facilidade se tivesse escolhido um modelo mais comum. Naturalmente, tivemos algumas adequações. Por conta do estágio do curso em que estava, uma das principais é o braço parafusado junto ao corpo, e não colado como nas Rickenbacker. Mesmo assim, aos meus ouvidos, a sonoridade se equipara aos timbres clássicos que habitam minha mente. Porém, não significa a ausência de falhas em outros aspectos.


O que pode ser melhorado


Embora com todo esmero, era de se esperar que o produto final apresentasse problemas, já que feito por um mero iniciante. Visualmente, o que mais me incomoda é a madeira nua aparecendo em volta das buchas das tarraxas, mas talvez seja corrigido com o esmalte que usei em outro reparo. No que tange à estrutura, com medidas precisas, evitaríamos a necessidade do calço de madeira no tróculo. O braço poderia ser um pouco mais fino e o espaçamento das cordas melhor ajustado, apesar de que o instrumento já é confortável de tocar. A regulagem da altura dos captadores é um pouco limitada, mas a diferença de volumes é compensada pelo mixer – uma grata surpresa –, que nada mais é que um controle de sinal extra para o pickup do braço. Há quem o remova do circuito ou altere seu funcionamento por um compressor (efeito que casa bem com uma guitarra de 12 cordas), mas deixarei assim por ora. Outra pequena coisa seria equiparar o tom de branco dos escudos com o da capa do tensor, que também podemos moldar para seguir a curva no início do headstock.


Valeu a pena?


Se a vontade somente fosse ter uma dessas, seria muito mais fácil e, quiçá, mais barato comprar pronta. As peças que a integram são difíceis de achar e foram importadas, exceto poucas miudezas. Muitas delas só foram encontradas em uma ou duas lojas autorizadas que enviam para o Brasil, pois o fabricante original é seletíssimo quanto à revenda de suas partes. Contudo, a grande vantagem de optar pelo caminho de construir é o poder de escolha em cada detalhe. A cor, por exemplo, é rara em instrumentos musicais e inédita nesse modelo; poucas fotos traduzem a complexidade de sua beleza. Somado os gastos com o curso, componentes e transporte, o investimento é comparável ao valor de uma guitarra profissional. Como ainda vivi a experiência única de concebê-la, posso dizer que foi deveras compensador.


Nome da criança


Sempre que ouço George Harrison, Lulu Santos, Jimmy Page e Roger McGuinn tocando 12 cordas – grandes inspirações no segmento – as sonoridades me remetem a algo "doce". Por isso, Dulci XII (lê-se dulti doze). Dulci significa doce em romeno e XII faz referência à quantidade de cordas.


Agradecimentos


Em primeiro lugar, agradeço a Deus pelo privilégio de experienciar música em mais um sentido. Estendo os cumprimentos a todos da B&H por todo suporte: ao meu mestre Marcio, aos outros professores Henry, Saulo e Ricardo (introdução à luthieria), aos monitores Edu, Rafa e Marina e, claro, ao querido Lasanha, o gato que sempre invadia as aulas com espirituosidade. Também à minha família, namorada e amigos, por todo incentivo. Até o momento da divulgação deste texto, vocês visitaram o blog 6.303 vezes, o que dá a média de 65 acessos por postagem (picos de 240 no primeiro e 239 no último capítulo). Considero uma performance satisfatória para um site de teor tão específico, que nunca se prezou à maiores propagandas, mas sim pela fidelidade ao que aconteceu, mostrando altos e baixos sem qualquer censura. A todos, muito obrigado por terem me acompanhado nessa jornada!

PS: O riff de "You Can't Do That" (The Beatles) foi o primeiro tocado. Mais emblemático, impossível.


Especificações


Dulci XII

CORPO
Cor: verde sparkle
Madeira: marupá
Friso frontal: branco (10mm x 1,5mm)
Curvas de conforto: traseiras

BRAÇO
Cor: verde sparkle
Madeira: marfim
Formato: "C" espesso
Friso: branco (6mm x 1,5mm)
Marcação: dots/preto (2mm)

ESCALA
Madeira: pau-ferro
Tamanho: 24.75"
Raio: 12"
Número de trastes: 22
Tamanho dos trastes: jumbo (Sanko SBB215)
Inlay: triangular/pearloid
Material do nut: osso
Largura do nut: 43mm
Tensor: ação simples

ELÉTRICA
Captadores: 2x Rickenbacker Vintage Toaster Single-Coil (7K Ω)
Potenciômetros: 330K
Controles: volume/braço, tone/braço, volume/ponte, tone/ponte, mixer
Chave de 3 posições: braço, braço+ponte, ponte
Jacks de saída: mono/stereo
Blindagem: folha autoadesiva de cobre

HARDWARE
Ponte: Rickenbacker 12-saddle
Cavalete: estilo harpa
Roldanas para correia: Gotoh
Escudos: acrílico branco leitoso
Junção braço/corpo: 4 parafusos
Tarraxas: Gotoh SD510

OUTROS
Cordas: Thomastik-Infeld flatwound custom (.010-.044)

terça-feira, 30 de maio de 2017

Dia 96 - Últimos ajustes

Hoje é o grande dia!

Aleluia!

Mas, ainda muitas coisas a acertar. Começamos na pestana, lixando o enxerto de osso que fizemos na semana passada.

Praticamente no mesmo nível.

Depois da Dremel por cima e do taco pequeno com lixa pelo lado da escala, reposicionamos o par de lá.

Em ajuste.

Já podemos tensionar as cordas de leve para conferir a angulação do braço. Buscando a melhor performance do instrumento, fizemos um calço com folha de madeira no tróculo por recomendação do professor. Demorou algumas tentativas até acharmos o ponto.

Ainda foi um maior.

Corpo e braço juntos novamente, podemos afiná-las pra valer...

Que trabalheira.

... e fazer os ajustes finais no nut. Deixando os slots mais baixos, no limite da altura do traste primeiro, o conforto é garantido ao tocar nas casas iniciais.

Limando.

Depois disso, fica fácil. Restam as cavidades dos parafusos da capa do tensor...

Será que tem algo escrito nela?!

... e do outro pino de correia.

Superior.

Acabou!!!

Minha linda guitarra 12 cordas!

Que seja voz do melhor que há dentro de mim.

Fim.


terça-feira, 23 de maio de 2017

Dia 95 - Slots na pestana e na ponte

Criaremos as outras cavidades. O padrão de instrumentos com cordas oitavadas é ter a mais fina como a primeira de cada par quando vista por cima, mas, como no projeto original, teremos o contrário.


Quase branco.

Depois de colocar uma dessas na outra extremidade do nut, delimitamos a área interna para começar a trabalhar na ponte.


Limas de espessuras variadas.

Inciamos pelas mais grossas, no olhar.


Ranhurando.

Do outro lado, nos baseamos em um gabarito. Marcamos as posições...


Régua de aço.

e serramos em cima.


Em ação.

A metade está pronta.


Ficaria assim se fosse uma guitarra comum.

O desafio agora é definir o espaçamento entre as cordas de cada par. Devido às particularidades desta construção, adaptaremos caso a caso, pois nem a própria Rickenbacker apresenta consistência nesse sentido. Para ter alguma referência, usamos pequenos pedaços de pickguard no meio das duplas.


Algo por aí.

Todas equiparadas, podemos completar o que falta na ponte.


Mexe lá, mexe aqui.

Concluindo a pestana, observamos que o 5º par ficou muito próximo ao seguinte, devido aos diâmetros mais grossos.


Close to the edge.

Faremos um enxerto de osso para reposicionar.


Colagem secando.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Dia 94 - Cavalete e ajustes com a primeira corda instalada

A guitarra começará a ficar mais 'doce' com a instalação deste tailpiece.

Uma pequena harpa.

Antes disso, faremos um pequeno enxerto no lugar do pino por onde ficava pendurada quando desmontada.

Aparecendo por baixo, muito pouco.

Cola, palito e, para igualar a cor, ... esmalte!

O blog foi longe demais, convenhamos.

Um pingo basta.

Perfeito.

Agora, determinaremos a posição do cavalete. Com um barbante, observamos a posição dos saddles nas extremidades da ponte. Devem fazer a melhor reta possível em relação às saídas das cordas.

Exemplo.

Na posição certa, marcamos a cavidade do parafuso central, que também segura o pino de correia. Furamos com a Dremel e colocamos tudo no lugar. Os outros 4 vão direto na madeira.

Fixo.

Finalmente, "Pra que tanta corda?" fará jus ao nome.

Thomastik-Infeld flatwound .010-.044, made in Austria.

Inicialmente, como se fosse uma guitarra comum, tensionamos as 6 primeiras cordas para fazermos os slots na pestana e na ponte. Começamos pela mais grossa, riscando o nut...

Bem no limite da escala.

... e cavando com a lima certa.

Uma de cada vez.

Pronto de um lado.

Aço no osso.

O mesmo trabalho é repetido na ponte.

Outro tipo.

Temos a primeira corda assentada no instrumento.

Cara já tem; só resta falar como uma guitarra.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Dia 93 - Parte elétrica

Resolvemos a aparência frontal do escudo colando um pedaço de cartolina branca por trás. Nela, recolamos a fita de cobre. Já podemos fixar as peças.


Muito melhor.

Para evitar que os jacks encostem na blindagem e gerem curto-circuito, retiramos um pouco do cobre naquela região da cavidade.


Não prejudica a gaiola.

Também interligaremos a ponte ao aterramento pelo canal feito no dia 87. Uma das pontas do fio encostará na base, que será parafusada por cima, e a outra será estanhada junto à blindagem.


Prestes a ser escondido.

Os controles já vieram montados como numa Rickenbacker tradicional; em sentido horário: tone/braço, volume/braço, volume/ponte e tone/ponte. Ao meu ver, não é uma disposição muito usual. Faremos no estilo Gibson: volume/braço, volume/ponte, tone/ponte e tone/braço. O mixer não foi alterado. Concluímos soldando os captadores na chave e as conexões dos jacks nos potenciômetros.


Reposicionado com 1/4 de volta em sentido anti-horário.

A plaqueta dos jacks deve seguir o contorno do corpo. O acerto é com um alicate envolvido num pano.


Sem machucar.

Fechou!


Stereo/mono.

Knobs nos devidos lugares, terminamos a parte elétrica.


Rick-a-like.

terça-feira, 2 de maio de 2017

Dia 92 - Posicionamento dos controles e blindagem

Disporemos potenciômetros e switch no escudo.


Teste.

O espaçamento entre os botões do meio são definidos: 4 cm na horizontal, 5 cm na vertical. A partir dessas medidas, centralizamos o 5º controle à esquerda e, do outro lado, a chave de seleção de captadores. Colamos fita crepe, circulamos os respectivos knobs e apontamos o centro com lapiseira e marcador.


Mais visível que riscando no acrílico.

Medimos a rosca dos potenciômetros com paquímetro e achamos uma broca do mesmo tamanho, assim como na chave. Temos as ferramentas necessárias para ir à furadeira de bancada.


Man at work.

Pequenos ajustes ainda são feitos com o alargador cônico.


Rodando o 't'.

Verificamos com as peças; todas passam.


Furos prontos.

Podemos iniciar a parte elétrica. Começando pela blindagem (gaiola de Faraday), que revestirá de cobre a cavidade dos controles para minimizar a incidência de ruídos no som.


Fita autoadesiva.

Super fácil de fazer.


Ovo de Páscoa/marmita.

No escudo, também, ...


Difícil de se livrar dos amassados.

... mas temos um problema.


Visual afetado do outro lado.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Dia 91 - Parafusos dos escudos

Continuamos a fazer as cavidades, passando a que ficará abaixo do captador do braço para o segundo pickguard.


Por baixo.

Alinhamos perfeitamente, seguramos firme junto a madeira e passamos pelo furo já existente.


Animalesco.

Ao centro, teremos dois orifícios em cada peça. Maior e menor; seguimos a mesma ordem.


Como anteriormente.

Estão prontos para serem parafusados.


Combinados.

É hora de trabalhar no corpo. Com base no primeiro escudo, achamos sua posição e marcamos com a ponteira de metal. Para furar, usamos uma broca um pouco menos larga que o parafuso, como nas tarraxas (dia 85). Mas, ainda temos uma outra etapa.


Uma das melhores fotos, não?

Para melhorar o visual dos encaixes, usaremos um esmeril cônico para que a cabeça dos parafusos adentrem nas cavidades visíveis.


Esta é a ideia.

Fazemos em todas...


Ficam assim.

... até que fique pronto.


Cada vez mais Rick!